Direito de Família: O que realmente estamos fazendo para preservar nossa maior base?
Atuo como advogada de Família e Sucessões há 25 anos. Nesse tempo, vi a sociedade evoluir, as leis mudarem e, principalmente, o Direito de Família se renovar mais do que qualquer outra área. No entanto, o que me impressiona é que, apesar de todas essas transformações, as perguntas que assombravam as famílias quando eu ainda era estagiária, há mais de 28 anos, continuam sendo as mesmas.
Hoje, vivemos em uma era de fácil acesso à informação. Com poucos cliques, qualquer um encontra respostas para suas dúvidas jurídicas. Mas se a informação está ao nosso alcance, por que tantas famílias ainda se perdem nas mesmas questões? A resposta é simples: temos informação, mas não temos conhecimento. Vários profissionais falam sobre os mesmos temas e, muitas vezes, reproduzem o mesmo conteúdo. Um verdadeiro copia e cola. Mesmo assim, ainda atendo clientes com dúvidas que se encaixariam mais no Código Civil de 1916 do que na legislação atual.
Ainda recebo mães desesperadas porque o pai dos filhos ameaçou “pegar a guarda” apenas porque ela trabalha muito. Atendo casais que afirmam categoricamente que não dividirão os bens, pois cada um comprou o que tem com seu próprio esforço. O detalhe? 100% dessas pessoas são casadas sob o regime de comunhão de bens. E também recebo aqueles que, do outro lado dessa história, estão desesperados, pois acreditam que ficarão sem nada.
E em pleno século XXI, ainda me deparo com pais e mães que acreditam que o papel paterno é apenas o de provedor e que, por isso, ele não deve compartilhar o mesmo tempo com os filhos. Outros, por sua vez, querem mais dias com os filhos apenas para reduzir o valor da pensão. O pior? Pequenas vinganças diárias, como impedir a presença dos filhos em momentos importantes da família do outro genitor.
Vejo discussões por roupas e brinquedos: o filho não pode levar o presente de uma casa para a outra, como se o afeto estivesse condicionado ao território de quem deu o presente.
Tantas questões, tantas disputas, tantas dores. E, claro, também vejo pais e mães apavorados com a ideia de que o novo companheiro ou companheira do ex possa causar algum mal ao filho, como os tristes casos que vemos na mídia. Sim, alguns medos são fundados, mas a maioria é fruto de inseguranças e ressentimentos.
Infelizmente, ainda vejo mais brigas do que conciliação e maturidade. E é aqui que entra o papel do advogado: acolher, mediar, orientar. Tento sempre mostrar que o melhor caminho é o diálogo, mas sei que leva tempo. Muito tempo.
Então, quando escuto e leio frases prontas como “a família é a base de tudo”, me pergunto: quantos realmente entendem o significado dessa afirmação? Se é a base de tudo, por que tantos a tratam com tanta negligência?
Para mim, o Direito de Família é mais do que uma profissão; é meu caminho e minha alegria. Enquanto eu puder ajudar e contribuir para melhorar a vida das pessoas, seguirei firme nessa jornada de desafios e recompensas.